“Participação e Inovação Social: a construção de cidadanias insurgentes” foi o tema da sexta edição da Universidade de Verão da Associação In Loco, que esteve a decorrer em Albufeira, na Biblioteca Municipal Lídia Jorge, de 9 a 12 de setembro.
Mais de 70 pessoas – entre técnicos municipais e de vários serviços públicos, representantes políticos das autarquias, associações de diversas áreas, investigadores e estudantes – participaram na “Universidade de Verão 2014”.
O evento resultou de uma parceria entre a In Loco e o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e contou com a colaboração do Município de Albufeira e do Programa PRODER.
Sob o lema “Participação e Inovação: a construção de
cidadanias insurgentes” a sexta edição da Universidade de Verão trouxe para
debate e reflexão quatro grandes temas: Orçamentos Participativos numa
Perspetiva Internacional; a Construção da Ação Coletiva na Defesa dos Direitos
de Cidadania; Caminhos da Inovação Social e da Sustentabilidade e as
Invisibilidades da Participação e da Inovação.
Nelson Dias, presidente da Associação In Loco, salientou que
a temática deste ano incide sobre a participação e inovação social e a questão
das cidadanias insurgentes, “no sentido de entidades e cidadãos inconformados,
que se organizam para fazer face a problemas com que se confrontam no
dia-a-dia, exercendo uma cidadania ativa em colaboração com o estado e não
contra o estado”.
Giovanni Allegretti, investigador sénior do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, e um dos responsáveis pela Universidade de Verão, referiu que o tema é muito debatido no mundo académico, existindo já diversas teorias para o conceito, as quais têm vindo a crescer nos últimos anos.
No entanto, disse, “o que interessa é que insurgente é quem não se conforma e age com a capacidade de transformar o futuro”.
Quanto à razão para a escolha de experiências internacionais de Orçamentos Participativos (China, Moçambique e EUA), o especialista justificou com “a importância de trabalhar com espelhos, de ver e aprender com o que os outros fazem, numa perspetiva de melhoria contínua”.
A nível mundial, existem já mais de 2.500 experiências de
Orçamentos Participativos. Em Portugal o tema também está muito em voga, contando
com cerca de 12 anos de experiência.
O presidente da Câmara Municipal de Albufeira informou que
Albufeira implementou o Orçamento Participativo, pela primeira vez, este ano,
estando a experiência a ser muito gratificante com o registo de mais de 3 mil
votantes, estando a apresentação pública dos resultados prevista para antes do
final este mês.
Carlos Silva e Sousa referiu que, além da perspetiva internacional, perspetiva dos cidadãos e dos técnicos relativamente aos Orçamentos Participativos seria útil incluir no programa da “Universidade de Verão” a perspetiva dos políticos.
A este respeito salientou, ainda, que “as autarquias locais apresentam a vantagem de terem uma maior proximidade dos cidadãos; os políticos não devem afastar-se de quem os elegeu, mas os cidadãos também não devem demitir-se da sua responsabilidade; têm a obrigação, não só de exercer o direito de voto como de participar no poder político”.
O autarca reiterou a importância da insurgência, do não
conformismo, “porque a sociedade não é estática e só evolui se houver
criatividade, inconformismo, para que seja possível construir uma sociedade
melhor”.
A “Universidade de Verão 2014” apostou num leque de
conferencistas de renome a nível nacional e internacional o que contribuiu para
o sucesso da iniciativa e para o debate aceso de temáticas tão diversificadas
como Inovação Social, Mecanismos de Participação, Ética Pública, Avaliação e
Monitorização de Políticas e Instrumentos de Participação, entre outras.
Pela sala
da Biblioteca Municipal Lídia Jorge passaram Yves Cabannes (urbanista e
ativista especializado em governação urbana e municipal), Patricia Garcia Leiva
(doutorada em Psicologia pela Universidade de Málaga. Trabalha no estudo da
capacitação em processos participativos), Vanessa Sousa (mestre em Planeamento
e Processos de Desenvolvimento, Consultora da In Loco na área do planeamento e
avaliação do desenvolvimento social e metodologias participativas), Roberto
Falanga (doutorado em Sociologia, investigador de experiências participativas
na Administração Pública), Isabel Guerra (Professora Catedrática aposentada, o
seu trabalho destaca-se no âmbito dos Serviços de Segurança Social), Alexandra
Brito da Refood Portugal (impulsionadora do projeto Refood em Almancil), Elisa
Gigliarelli da Officine Zero (Itália), Tiago Gillot do Movimento Precários
Inflexíveis, Francisco Louçã (signatário do Manifesto para a Reestruturação da
Dívida Pública), Mabel Gutierrez da Plataforma Afetados pela Hipoteca
(Espanha), José Manuel Henriques do ISCTE, Cristina Gonçalves e Luísa Cipriano
da Oficina Social da CM Cascais, Maria Carmo Pinto, Ana Polido e Gustavo
Freitas do Banco de Inovação Social da Misericórdia de Lisboa, Rui Sá Carneiro
da Agência Nacional de Intervenção Social, Filipe Miranda da SAOM (inst.
privada de solidariedade social), Cláudia Gama do Grupo Nabeiro, Ana Raquel
Matos do Centro de Estudos da UN Coimbra, Bárbara Rosa do Observatório da Má
Despesa Pública e Jesus Jurado do Movimento PODEMOS.