27 e 28 de novembro de 2014, Centro de Informação Urbana de Lisboa | Picoas Plaza
Enquadramento
A moeda
social tem adquirido cada vez mais importância no cenário internacional. Vários
países a utilizam, seja para evitar a evasão de recursos das comunidades –
fortalecendo a economia de proximidade – seja para estimular, no tecido
comunitário, o reconhecimento e a circulação de competências e saberes das
pessoas. Criadas e geridas pela própria comunidade, o mais comum é que estas
moedas complementares sejam adotadas em pequenos circuitos de troca para o
intercâmbio de produtos, serviços e saberes. Estes circuitos são conhecidos, em
Portugal, como feiras de troca ou mercados solidários. Além de estarem nestas
feiras, as moedas sociais aparecem, também, no âmbito das finanças solidárias,
como uma forma diferente de apresentar o microcrédito, criando uma outra lógica
de circulação dos recursos dentro da comunidade. São os bancos comunitários,
geridos pela própria comunidade, na forma de associação de moradores ou outra
instância que represente o coletivo.
Por sua
vez, os orçamentos participativos (OP), cada vez mais, são considerados espaços
onde a participação direta dos cidadãos na construção de uma parte dos
investimentos e das políticas públicas pode mudar a relação de parceria entre
os poderes públicos e os habitantes (assim como as relações internas aos
tecidos sociais), reconstruindo laços de confiança mútua entre os diferentes
atores que contribuem para a construção e a gestão do território. Há, hoje, em
Portugal mais de 30 experiências em andamento – quer a nível de freguesia quer
a nível municipal – quase todas deliberativas, ou seja organizadas para
permitir que os e as participantes não apenas proponham investimentos,
atividades ou reorganização de serviços, mas também possam votar na
hierarquização das prioridades. Ainda há muito para fazer no país em relação ao
amadurecimento destas experiências, e à hibridação com outras tipologias de
processos participativos, mas é certo que se trata de um caminho irreversível
de inovação nas modalidades de governação do território, que pode ajudar a
enfrentar quer a crise económica quer a crescente perceção dos cidadãos de uma
crise de legitimidade das instituições representativas.
A
perspetiva de gestão partilhada – tanto nos mercados solidários com recurso à
moeda social como nos bancos comunitários (em que a moeda social se estende a
toda uma comunidade) – permite-nos estabelecer, à partida, uma ponte entre as
Moedas Sociais e os Orçamentos Participativos. No caso dos mercados solidários,
dada a nova sociabilidade que podem promover, é comum haver maior articulação
dos participantes na identificação de problemas diversos (da aldeia, vila,
bairro) e na busca coletiva de soluções. Deste modo, a integração dos cidadãos
em circuitos de troca, por iniciativa dos mesmos ou por incentivo das
autarquias e/ou associações de desenvolvimento local, contribui para o
reconhecimento e valorização dos saberes das pessoas, para o fortalecimento de
comunidades economicamente frágeis e para atribuir ênfase à chamada economia de
proximidade. Estes são elementos que já nos permitem identificar pontes
possíveis entre os orçamentos participativos e as moedas sociais.
Acrescentaríamos outras: 1) se a democracia participativa é um elemento
fundamental no OP, ela também pode ser fortalecida através da implementação de
circuitos de troca com recurso à moeda social, sendo uma das mais-valias destes
circuitos a articulação comunitária; 2) a moeda social guarda pontos comuns com
o orçamento participativo relativamente aos objetivos de maior participação
comunitária nas decisões que afetam o coletivo; 3) em alguns países, a moeda
social pode ser integrada como instrumento de pagamento (parcial e sobretudo de
bônus) aos servidores, criando legitimidade e estimulando maior circulação da
moeda social e 4) a adoção ou apoio a uma moeda complementar local pode ser
útil para ampliar o orçamento do OP em situações em que a ausência de recursos
da autarquia pode ser equilibrada com a emissão da moeda complementar.
Este curso
de formação busca trazer estas e outras questões para debate, mostrando pontes possíveis
e desafios oriundos do diálogo ainda pouco estimulado entre moedas sociais e
orçamentos participativos. Poderá a moeda social integrar uma política pública?
Em que medida poderão, moeda social e OP, complementar-se no âmbito do
desenvolvimento territorial? A moeda social pode ser incorporada no próprio OP?
Quais vantagens e quais os limites?